Olhando o presente do vinho tinto, pensando no futuro

1/3 da produção se perdeu por falta de mercado, escafedeu-se misturado com uva de mesa num garrafão da vida.

No Estado do Rio Grande do Sul, dos 73 milhões de kg de uvas vitiviníferas colhidas no ano passado, no máximo viraram vinho nas garrafas – 15 milhões na Aurora, 15 entre a Miolo e a Salton, mais 15 entre Chandon, Perini, Valduga e Aliança. Digamos que outras 5 milhões ficaram por conta das empresas menores como LIdio Carraro, Don Laurindo, Almaúnica, Pizzato, Boscato, Argenta, Angheben e tantas outras a considerar, brancas e tintas para vinhos tranquilos ou espumantes.

Falta de mercado para escoar, falta de técnica, vontade política, espaço e dinheiro para escoar. Falta de entusiasmo dos produtores. Falta do quê?

Ao mesmo tempo, na mesma hora, o Le Monde sai com a reportagem sobre a excelência do vinho tinto brasileiro em artigo de 4 páginas rasgando elogios, enquanto o Steve Spurer, aquele mesmo do Desafio de Paris, dá notas acima de 91 pontos para cinco vinhos tintos brasileiros, na hora que a Wine In mostra por gole + gole às cegas que temos vinho no mesmo patamar dos vinhos medianos argentinos e chilenos.

É o mesmo momento em que há patrocínio para a inovação na área como provou com bom uso a Aurora para montar sua estação de Pinot Noir em Pinto Bandeira.

É o instante em que o Boscato se reinventa fazendo dinheiro com um olho na distribuição que está tinindo e um outro na melhora incessante dos seus vinhos, como conta seu novo chardonnay para quem experimentar colocá-lo numa taça (nada de gelar demais, o bicho aguenta bem ser bebido a 14 graus centígrados.

É a hora que o Lidio Carraro não pára de investir em novos produtos, cada vez mais apurados e se prepara para concluir o ciclo da Copa do Mundo que começou com os Faces e vai acabar gerando mais hectares plantados em Encruzilhada.

As notícias são alarmantes vindas dos tambores mais sisudos que dá para imaginar. Ao mesmo tempo, no meio das ondas aéreas, navegam as informações contrárias. Há de construir uma teoria do erro.

As certezas que aparecem nas análises técnicas de teóricos do vinho, seja da academia seja fora dela, não estão batendo muito não. O controle de qualidade é pouco, a fiscalização é pouca, a procura por um mercado maior é tímida, por mais que o gás da Apex na Ibravin não diminua e Wines Of Brasil não pare de inserir-se pelas bordas formadas pelos micro-mercados de países como os EUA.

Acho que estamos precisando de um Fórum Permanente, algo maior do que o da Fecomercio, da Câmara Setorial, do Wine In, da Avaliação Anual da ABE.

Talvez seja mesmo necessário criar condições concretas para lançar um plano diretor para daqui 15 anos, para que não fique solto no ar acadêmico como o que foi lançado anos atrás com encaminhando o setor para o ano de 2025.

 

7 comentários em “Olhando o presente do vinho tinto, pensando no futuro

  1. Sem sacanagem, tovarich: mais legal assinar só Raigorodsky. By Raigorodsky, então, é covardia.

    A noite ergue-se como uma coluna negra. O cheiro dos lírios é puro e forte lembrando a melhor vodka. Um e outro tiro de fuzil perdido ao longe. Os dois velhos cossacos se olham, cansados e com frio. O dos bigodes brancos e firmes como os Urais traz o companheiro para perto quebrando-lhe costelas. Lhes chamavam mortes em geografias opostas. O da cabeça mais branca só lhe diz , as rodas já se movimentavam, e sobe sua última agilidade no vagão: — “Beijo tovarich Raigorodsky”.

    By Duboc, tentando imitar Isaac Bábel, em O Exército de Cavalaria.

    Date: Fri, 20 Sep 2013 17:29:24 +0000 To: duboc9@hotmail.com

  2. Caro Breno, saúde. Bem vindo ao Clube. Volto a dizer o que venho dizendo desde sempre. Sem UNIÃO não construiremos nada. O SETOR não existe, lamentavelmente.

    O trabalho do GTT está resumido a promover os vinhos brasileiros nos supermercados. Um trabalho necessário e de longuíssimo prazo. Mas não pode ser só isso. Isso é no máximo 10% das necessidades que temos para o Setor e para resolver esse problema de escoamento que você fala.

    Enquanto o setor não souber quantas pessoas trabalham em sua cadeia produtiva, quanto representa do PIB, quanta arrecada de impostos, não temos como falar com o governo.

    Se o vinho fosse vendido internamente pelos valores que são vendidos no exterior não haveria problemas para esse escoamento que você fala.

    Quando o consumidor encontrar vinhos de vitis no supermercado a preço de cerveja, como acontece na Europa e no vizinho Uruguay, não haverá problema pare esse escoamento.

    Quando o consumidor brasileiro tiver conhecimento da contribuição do consumo do vinho como o americano aprendeu a ter e o europeu sempre teve, não haverá problemas para esse escoamento.

    Simples não?

    1. É isso mesmo, não tenha dúvida. Conversando longamente com o Jaime Fensterseifer (não sei como uma pessoa com um nome tão difícil conseguiu sobreviver) e com o Werner Scumacher, conversando com gente como você, o Clóvis Boscato, o Flavio Pizzato e tantos outros, vemos que os problemas são de toda ordem. Ontem mantive uma conversa longa sobre as dificuldades do treinamento do pessoal da lavoura, para que se expanda os pontos produtivos, Encruzilhada, por exemplo. O esforço individual de cada vinícola que se implanta, por mais que seja uma Valduga e uma Lidio Carraro, acostumados a resolver seus problemas sozinhos, podia ser equacionado de outro modo, podia ser construído um galpão coletivo com treinamento dado por especialistas, com um custo equacionado e absorvido de outro modo. É apenas um exemplo, mas muito significativo, no meu entender. Ademais, ainda nesta seara, certamente o setor tem o que aprender com tantos outros e um forum permanente poderia trazer este knowhow, poderia cumprir este papel de queimador de etapas…

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