A Itália é mesmo Oenotria, terra do vinho, no período anterior ao VI sec. aC, por mais que aquele povo dito Oenotrium, habitante apenas da Calábria e Sicília, tenha se dissolvido entre outras etnias itálicas, antes mesmo do período romano.
Mas o título de terra produtora de vinho colou e se espalhou, mesmo antes do Império levar com suas conquistas, vinhas para replantar a Europa inteira.
Onde quer que se vá na Península, uvas fermentadas haverá, uma novidade se aprenderá.
Em torno do Lago de Garda, um dos mais lindos resultados do esforço medieval relatado por Fernand Braudel, de acabar com os pântanos da planície lombarda que tantas vidas cobrou pelas pestes – como nos demonstrou o inesquecível exército de Branca Leone de Monicelli, com Vitorio Gassman e Cia. – encontram-se várias vinícolas especializadas em vinhos que não costumam passar pelas cabeças dos importadores – Monte Cicogna, Azienda Agricola, é uma delas.
Especializada em uvas autóctones e das redondezas, fica em Moniga, na margem ocidental do Lago, se bem que planta também do outro lado, em Desenzano, por conta da Trebiano di Lugana, vinha de excelência para a produção local.
De brancos, produz Trebiano di Lugana, Riesling Renano e um pouco do Branco Cruzamento Manzoni, uva resultado das experiências de um tal Manzoni, enólogo, Professor Pardal do início do século XIX, que fez mil experiências de cruzamento com a Glera do Prosecco, com a Pinot Blanc, com a Moscato e com a Gewurzstraminer, ao menos para ficar entre as que chegaram até nós com algum sucesso.
Com elas faz vários vinhos, do mais fresco e jovem a alguns bem estruturados como o Il Torrione, 100% Riesling Renano ou o clássico Lugano, o S. Caterina, além de um imponente Late Harvest, com 30% do Cruzamento Manzoni, passando por um ano em carvalho francês de primeiro uso e um ano de guarda em garrafa antes da venda.
De tintos, Groppello Gentile, Barbera, Sangiovese e Marzemino. Da Barbera de origem piemontesa e da Sangiovese que se arrasta pela Toscana, Umbria, Emilia-Romagna, Abruzzo e Lombardia, não é preciso dizer nada agora.
Groppelo Gentile é bem comum no Lago di Garda e rendondezas de Brescia, uma uva rodada, está documentada desde o século XVI. É vista como extremamente resistente ao inverno e seus taninos não são tão acentuados assim, sendo usada como vinho de mesa, ao menos até os anos 1990. A Marzemino, igualmente comum na região, tem pedigree bem interessante, é parente da Teroldego e da Refosco, uvas vigorosas mas nem por isso indomáveis, tanto que rendem vinhos elegantes no Alto Adige.
Com a Groppelo Gentile em 60% (+Barbera, Sangiovese e Marzemino), a casa criou seu vinho mais importante – O Don Lisander – com uma maturação pós-colheita de 50% das uvas num sistema que lembra o Amarone di Valpoliccella e o Sfurzat lombardo de Nebbiolo, cada vez mais encontrado, mundo afora. O vinho é afinado em barris de madeira de 1º uso por 15 meses ou mais, sendo que descansa em garrafa ao menos por 9 meses.
Com a mesma estrutura, sem a maturação pós-colheita um vinho inesquecível e com um pouco menos tempo de madeira – o Rubinere – Êta vinho bão! Com este corte e com esta vinificação clássica, consegue ser um Super Lombardo!
De típico ainda o Chiaretto di Moniga, um rosé das mesmas uvas tintas, talvez o mais típico rosé da Itália do Norte.