Num profusão de candidatos exagerada, como sói acontecer num país como o nosso, decidi meu voto com muita dificuldade, mesmo porque todos os candidatos que se apresentaram eram de excelente qualidade.
Dois Barolos, dois Barbarescos, um Chardonnay, um Barbera e um Langhe, difícil dizer ao menos quem iria para o segundo turno ao lado do grande campeão de sempre, 3 bichieri do Gamberorosso, 93+ para o Robert Parker, o pomposo e aristocrático Barolo Ornato 2009.
Com ele, competiram diretamente o Barbaresco “Il Bricco” 2009, o Barbaresco 2009 com uvas de Treiso, Barbaresco e San Rocco Seno d’Elvio e o Barolo 2009 de Serralunga misturado com uvas vindas de Catiglione Falletto e Monforte d’Alba.
Entre os 4 DOCGs, pequenas variáveis na maturação das uvas, conferiam aos dois menos nobres um tom mais jovial, enquanto que O “Il Bricco” tentava porque tentava se igualar ao “Ornato”… E quase conseguia, mas não, ficou sempre a cada argumento… ou melhor a cada gole. Il Bricco, com seus 30 meses fica de fato um pouquinho abaixo em todos os quesitos, mesmo que tenha a mesma grande elegância e complexidade.
Para competir com o campeão para cumprir um 2º turno, o “Piodilei” 2011, quem sabe o chardonnay mais próximo de um Mersault que já tivemos em boca, amparado em suas convicções e qualidades pela harmonização vitoriosa com o risotino de lagostim preparado na Osteria Petirosso para servir de apoio, ou seja, sem que suas aptidões fossem disputar a primazia com a “Piodilei”, que desde o nome brinca com um segundo sentido virtuoso, pois significa “mais de você, ou mais da senhora” e significa igualmente “O Pio da senhora ou o Pio de sua senhoria” nome da casa. Uma brincadeira que funciona, principalmente quando vemos a casa Pio Cesare envidando esforços para se reinventar!
Na última parte da degustação, numa ordem de entrada claramente desfavorável, como se este candidato pouco importasse, nos foi apresentado o “Oltre 2008” um vinho num estilo quase jovialmente envergonhado, mas provando que veio para ficar e que merece o melhor dos sucessos. Tão bem feito quanto aqueles que sustentam a imagem desta casa centenária, o “Oltre” é um orgulhoso Langhe, um vinho mais fácil de abrir, muito mais barato e muito mais adaptado a restaurantes, visto que não precisa toda aquela respirada que seus adversários mais imponentes sempre precisaram. Eu que já conhecia de longa data o “Il Nebbio”, um Langhe Nebbiolo que já tinha me impressionado muito bem, fiquei extremamente contente em ver o movimento em direção à renovação feita pela sisuda produtora (e pur si muove, diriam os italianos)
Mas, como em matéria de vinho nem sempre a novidade é melhor do que a tradição, o mais novidadeiro quebrou qualquer dúvida quanto ao potencial deste produtor de se renovar:- Barbera d’Alba Fides 2011, um vinho que vai atingir seu ápice em mais 3 ou 4 aninhos, mas está pronto para beber.
Na verdade, para um produtor com tanto nome a zelar como o Pio Cesare – admirado por um mundo de fãs espalhado por todos os continentes – falar em novidade é um pouco diferente. Pois cada movimento seu é feito com muito cuidado. No caso em particular, as uvas do Fides está em Serralunga, num vinhedo com um pouco mais de 1ha., há mais de 20 anos e seu primeiro engarrafamento é do finzinho do século XX.
Muito mais caro que qualquer outro Barbera que jamais provei, é o melhor, justificando um dito da região que o chama de um “Barbera che Barolegia”. Ou seja, um Barbera com sotaque de Barolo, mostrando que quando esta uva é trabalhada com o todo o cuidado do mundo, vira bicho, é extremamente complexa, persistente e expressiva. É um caso típico de superação da tipicidade!
Com 20 meses de carvalho, com a produção de apenas 6 000 garrafas, a tradicional Pio Cesare apostou num novo caminho.
Sem desmerecer a qualidade sempre intocável dos grandes Pio Cesare, meu voto final vai para ele.
Fichas –
- Barbera d’Alba Fides 2011 – Serralunga d’Alba – vinhedo Colombaro, com exposição ao sul – Langhe DOC, 100% Barbera, 14,5%. Frutas vermelhas, alcaçuz, tabaco. Vinificação – colheita manual, fermentação em tanques de INOX, em contato com os sólidos a 28-30ºC por 10 dias, malolática completa. Amadurece por 20 meses em carvalho, sendo que 20% em grandes barris (botti de 1000l), 80% em barricas bordolesas (225l). -WS 90, Duemila vini – 4 grappoli
- Barbaresco 2009 – DOCG, 14,5%, com notas de alcatrão e cereja madura no olfato – madeira (36 meses) de grandes toneis (neste caso 70% passa por eles e apenas 30% em barricas menores e de primeiro uso). Acaba descansando em garrafa por ao menos 6 meses – Gamberorosso – 2/3 bichieri, W&Spirits 93
- Barolo 2009 – DOCG, 14%, nebbiolo de Serralunga dÁlba + Catiglione Falletto e Monforte. Colheita manual, tipicidade total com seus 36 meses de madeira entre barris e grandes tonéis, além de muitos meses descansando em garrafa. A cor intensa, muito escuro, a complexidade esperada no nariz, com sottobosco marcante, frutas vermelhas, alcaçuz, flores secas. Para o RP – 93ptos
- Barbaresco “Il Bricco” 2009 – DOCG, vinho de um cru (lote) único de Treiso, o vinhedo “Il Bricco”, com longa passagem típica de 30 meses em madeira de vários tamanhos, sendo que 70% em barricas de primeiro uso, 30% em tonéis de madeira de 2000 l de Allier de vários anos. Frutas maduras e secas, alcaçuz. Intenso, elegante, concentrado, com um longo final – RP 92ptos, para o Gamberorosso 2/3 bichieri
- Barolo Ornato – DOCG, 14,5%, de Serralunga, do vinhedo Ornato, elaborado apenas em anos excepcionais, a grande estrela da degustação. Amadurecimento em barrica e barris grandes (2000l e 5000l), Descansa por vários meses em garrafa antes da comercialização. Frutas negras, mentol, mineral, grande estrutura, com taninos equilibrados, muito untuoso, final persistente. Para o RP 93+ptos. Para o Gambero Rosso 3 bichieri
- Oltre 2008 – Langhe DOC, 14%, 70% nebbiolo, 25% barbera, 5% C.S e Merlot. Vinhedos próprios, colheita manual, com rigoroso descarte, amadurecimento depois de completa a fermentação malolática, por 30 meses, em madeira de vários tamanhos e usos, sendo que 50% é de barricas francesas de 1º uso de tosta média (Allier). Balsâmico, alcaçuz e tabaco se apresentando no primeiro plano. Muito longo na boca, extremamente gastronômico!
- Piodelei 2011 – 100% chardonnay, Piemonte DOC, 14%, um grande chardonnay, comparável aos de Bourgogne (Mersault). 10 meses em barricas novas, mas resultou cremoso sem ser gordo demais, maçã e cítricos, brioche sem exagero. Grande vinho, melhor do que em versões anteriores. WS 91ptos, Gamberorosso 2/3 bichieri