Dentro da Península Ibérica, mas longe de findá-la.

Segura Viudas

Na degustação desta semana, provavelmente a penúltima do ano, entre mortos e feridos salvaram-se todos!

E olhe que eram muitos – em defesa dos espanhóis alguns grandes e famosos – Viña Sastre Crianza, Pacalola, Elias Mora Crianza, Freixenet Vintage 2008 Reserva, Sierra Cantabria Cuvée, Romanico e o +Siete (hor concour). Do lado português, Forja do Ferreiro, Via Latina, Passa Douro, Quinta do Vallado Reserva.

Vinhos díspares na uva, na vinificação e no preço, mas sempre com alguma coisa em comum, pares na apresentação. Em princípio, Alvarinho X Albariño, Douro X Duero, Tinta Roriz/Aragonês X Tempranillo.

As uvas, coitadas, não sabem o que fazem com elas, em que terreno são plantadas, se portam ou não enxertos, se passam ou não por madeira de várias procedências.

As uvas são como as rosas, só querem amadurecer, cumprir seus ciclos vitais. Como as rosas, apenas exalam, não falam, ferramentas de homens que sabem, ou ao menos têm condições técnicas, enológicas e antropológicas para saber, o que estão fazendo de um lado e de outro da fronteira.

Do lado de Portugal uma procura de maior tipicidade foi sentida no geral. Do mesmo lado, pelo preço médio das amostras, nenhum Tinta Roriz/Aragonês se meteu a varietal total. Mas houve quem visse a clara presença da dita, mesmo que apenas reconhecível por aproximação, pelas características organolépticas da vizinha que se faz pronta mais cedo, pois é disso que se trata seu nome ( tempranillo – adjetivo – Que ocurre, se realiza o se manifesta muy pronto o en tiempo anterior al señalado, acostumbrado, previsto o considerado correcto. advérbio – A primera hora de del día o de la noche. “mañana tenemos que ir al aeroporto y nos levantaremos temprano; soltamente me acuesto temprano si al día seguinte he de madrugar .” substantivo – Sembrado o plantío de fruto te).

Paca LolaDepois da abertura com a Cava bastante consistente, boa de complexidade apesar de um tanto curta na borbulha, com boa agulha, ótimo final e bom nariz, entraram em cena o alvarinho e o albariño, com a participação especial do Alvarinho Miolo, feito pra cá, bem pra cá da Ilha de Pedra peninsular. O albariño tem pretensões, o alvarinho não. Em primeiro o Paca Lola, em segundo o Via Latina, em terceiro e honroso lugar o Miolo.

Depois a sequência de pares por valor – O Elias Mora X Forja do Ferreiro. O Crianza mostrou-se muito mais estruturado, mas custa quase 3 vezes o preço do português da Beira. Sendo assim, nota boa por um lado, nota boa pelo custo/benefício do outro.
O Sierra Cantabria Cuvée ficou meio sem parceiro, Sierra Cantabriafalhou-lhe a tipicidade. Alguém gritou da ponta da mesa “Se for para eleger o mais francês da amostra, este cuvée ganha disparado”. Disputava com o Quinta do Vallado, inatingível quando comparado entre os Douros e Dueros. Apenas um lhe fez frente e venceu – o Vinha Sastre Crianza, de longe o melhor avaliado!Quinta do Vallado

Viña SastrePois para mostrar quanto foi lá em cima, de 15 votos possíveis como o melhor da noite recebeu 14. Seja com a língua em carpaccio coberta de caviar de berinjela com mostarda e alcaparras; seja com a linguiça de porco preto, com a bresaola e com a mortadela bolonhesa; seja com o arroz de pato… Ninguém se comparou.

A eleição no Petirosso deu empate técnico entre o tradicional e o novidadeiro

Barolo - BarbarescoNum profusão de candidatos exagerada, como sói acontecer num país como o nosso, decidi meu voto com muita dificuldade, mesmo porque todos os candidatos que se apresentaram eram de excelente qualidade.

Dois Barolos, dois Barbarescos, um Chardonnay, um Barbera e um Langhe, difícil dizer ao menos quem iria para o segundo turno ao lado do grande campeão de sempre, 3 bichieri do Gamberorosso, 93+ para o Robert Parker, o pomposo e aristocrático Barolo Ornato 2009.

Com ele, competiram diretamente o Barbaresco “Il Bricco” 2009, o Barbaresco 2009 com uvas de Treiso, Barbaresco e San Rocco Seno d’Elvio e o Barolo 2009 de Serralunga misturado com uvas vindas de Catiglione Falletto e Monforte d’Alba.

ornatoEntre os 4 DOCGs, pequenas variáveis na maturação das uvas, conferiam aos dois menos nobres um tom mais jovial, enquanto que O “Il Bricco” tentava porque tentava se igualar ao “Ornato”… E quase conseguia, mas não, ficou sempre a cada argumento… ou melhor a cada gole. Il Bricco, com seus 30 meses fica de fato um pouquinho abaixo em todos os quesitos, mesmo que tenha a mesma grande elegância e complexidade.

Para competir com o campeão para cumprir um 2º turno, o “Piodilei” 2011, quem sabe o chardonnay mais próximo de um Mersault que já tivemos em boca, amparado em suas convicções e qualidades pela harmonização vitoriosa com o risotino de lagostim preparado na Osteria Petirosso para servir de apoio, ou seja, sem que suas aptidões fossem disputar a primazia com a “Piodilei”, que desde o nome brinca com um segundo sentido virtuoso, pois significa “mais de você, ou mais da senhora” e significa igualmente “O Pio da senhora ou o Pio de sua senhoria” nome da casa. Uma brincadeira que funciona, principalmente quando vemos a casa Pio Cesare envidando esforços para se reinventar!

AlbaNa última parte da degustação, numa ordem de entrada claramente desfavorável, como se este candidato pouco importasse, nos foi apresentado o “Oltre 2008” um vinho num estilo quase jovialmente envergonhado, mas provando que veio para ficar e que merece o melhor dos sucessos. Tão bem feito quanto aqueles que sustentam a imagem desta casa centenária, o “Oltre” é um orgulhoso Langhe, um vinho mais fácil de abrir, muito mais barato e muito mais adaptado a restaurantes, visto que não precisa toda aquela respirada que seus adversários mais imponentes sempre precisaram. Eu que já conhecia de longa data o “Il Nebbio”, um Langhe Nebbiolo que já tinha me impressionado muito bem, fiquei extremamente contente em ver o movimento em direção à renovação feita pela sisuda produtora (e pur si muove, diriam os italianos)

Mas, como em matéria de vinho nem sempre a novidade é melhor do que a tradição, o mais novidadeiro quebrou qualquer dúvida quanto ao potencial deste produtor de se renovar:- Barbera d’Alba Fides 2011, um vinho que vai atingir seu ápice em mais 3 ou 4 aninhos, mas está pronto para beber.Barbera

Na verdade, para um produtor com tanto nome a zelar como o Pio Cesare – admirado por um mundo de fãs espalhado por todos os continentes – falar em novidade é um pouco diferente. Pois cada movimento seu é feito com muito cuidado. No caso em particular, as uvas do Fides está em Serralunga, num vinhedo com um pouco mais de 1ha., há mais de 20 anos e seu primeiro engarrafamento é do finzinho do século XX.

Muito mais caro que qualquer outro Barbera que jamais provei, é o melhor, justificando um dito da região que o chama de um “Barbera che Barolegia”. Ou seja, um Barbera com sotaque de Barolo, mostrando que quando esta uva é trabalhada com o todo o cuidado do mundo, vira bicho, é extremamente complexa, persistente e expressiva. É um caso típico de superação da tipicidade!

Com 20 meses de carvalho, com a produção de apenas 6 000 garrafas, a tradicional Pio Cesare apostou num novo caminho.

Sem desmerecer a qualidade sempre intocável dos grandes Pio Cesare, meu voto final vai para ele.

Fichas –

  • Barbera d’Alba Fides 2011 – Serralunga d’Alba – vinhedo Colombaro, com exposição ao sul – Langhe DOC, 100% Barbera, 14,5%. Frutas vermelhas, alcaçuz, tabaco. Vinificação – colheita manual, fermentação em tanques de INOX, em contato com os sólidos a 28-30ºC por 10 dias, malolática completa. Amadurece por 20 meses em carvalho, sendo que 20% em grandes barris (botti de 1000l), 80% em barricas bordolesas (225l). -WS 90, Duemila vini – 4 grappoli
  • Barbaresco 2009 – DOCG, 14,5%, com notas de alcatrão e cereja madura no olfato – madeira (36 meses) de grandes toneis (neste caso 70% passa por eles e apenas 30% em barricas menores e de primeiro uso). Acaba descansando em garrafa por ao menos 6 meses – Gamberorosso – 2/3 bichieri, W&Spirits 93
  • Barolo 2009 – DOCG, 14%, nebbiolo de Serralunga dÁlba + Catiglione Falletto e Monforte. Colheita manual, tipicidade total com seus 36 meses de madeira entre barris e grandes tonéis, além de muitos meses descansando em garrafa. A cor intensa, muito escuro, a complexidade esperada no nariz, com sottobosco marcante, frutas vermelhas, alcaçuz, flores secas. Para o RP – 93ptos
  • Barbaresco “Il Bricco” 2009 – DOCG, vinho de um cru (lote) único de Treiso, o vinhedo “Il Bricco”, com longa passagem típica de 30 meses em madeira de vários tamanhos, sendo que 70% em barricas de primeiro uso, 30% em tonéis de madeira de 2000 l de Allier de vários anos. Frutas maduras e secas, alcaçuz. Intenso, elegante, concentrado, com um longo final – RP 92ptos, para o Gamberorosso 2/3 bichieri
  • Barolo Ornato – DOCG, 14,5%, de Serralunga, do vinhedo Ornato, elaborado apenas em anos excepcionais, a grande estrela da degustação. Amadurecimento em barrica e barris grandes (2000l e 5000l), Descansa por vários meses em garrafa antes da comercialização. Frutas negras, mentol, mineral, grande estrutura, com taninos equilibrados, muito untuoso, final persistente. Para o RP 93+ptos. Para o Gambero Rosso 3 bichieri
  • Oltre 2008 – Langhe DOC, 14%, 70% nebbiolo, 25% barbera, 5% C.S e Merlot. Vinhedos próprios, colheita manual, com rigoroso descarte, amadurecimento depois de completa a fermentação malolática, por 30 meses, em madeira de vários tamanhos e usos, sendo que 50% é de barricas francesas de 1º uso de tosta média (Allier). Balsâmico, alcaçuz e tabaco se apresentando no primeiro plano. Muito longo na boca, extremamente gastronômico!
  • Piodelei 2011 – 100% chardonnay, Piemonte DOC, 14%, um grande chardonnay, comparável aos de Bourgogne (Mersault). 10 meses em barricas novas, mas resultou cremoso sem ser gordo demais, maçã e cítricos, brioche sem exagero. Grande vinho, melhor do que em versões anteriores. WS 91ptos, Gamberorosso 2/3 bichieri