Em resposta a um grande amigo do vinho, que se disse partidário convicto dos vinhos do novo mundo, respondi o que reproduzo:
“Legal este seu protesto contra o voto secreto que protege os enrustidos velho-mundistas como eu.
Sou pela harmonia, sou do vinho com comida, não sou do vinho para bebericar como se fosse cachaça ou uísque.
Mas sou do vinho do novo mundo cada vez mais, porque – no meu entender – ele deixou de ser tão pouco elegante e tão pouco complexo, deixou de ser engarrafado pronto para beber, deixou de ter estes atributos como categoria produtiva.
Já tem vinhos do Novo Mundo extremamente longevos até!!!
Sou um velho-mundista convicto, assim como você se declara ser novo-mundista… Mas e daí?
Os vinhos do Novo Mundo se aproximaram dos velhos, enquanto que – a partir de gente como os Torres de Penedes e Antinore na década de 1970 – e tantos outros que os seguiram, o Velho Mundo se aproximou inexoravelmente dos do Novo.
Em conversa recente, o senhor Thunevin, o garageiro mais bem sucedido do mundo do
vinho, declarou que não identificava mais vinhos da california quando misturados com os de sua região, a amada Bordeaux. Não só não mais identificava, porque os californianos tinham deixado de ser extremamente amadeirados e frutados para ganhar vários pontos em elegância, como não mais privilegiava os vinhos de Bordeaux, tendo que catar em ambos os lados do Atlântico produtores que se destacavam e não regiões inteiras.
E se o homem do St Emilion mais delicioso possível diz isso, quem sou então para estabelecer uma linha maginot definitiva entre eles?
Um bom final de vinho neste final de ano, no final desta divisão entre vinhos daqui e dali!!!
parece ter mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia (ou a minha ignorancia vinícola)
Pois é, Miguel. Existem dois polos de atração importantes para o produtor de vinho atual, que pode contar com recursos enológicos inimagináveis para os que produziam até 1980: um polo conservador , que leva à manutenção do mercado adquirido com aquilo que é a sua identidade historicamente reconhecida e, um polo transformador que é conquistar os mercados já constituíram um gosto definido, sendo este gosto distante do que você tem a oferecer. Para os velhos produtores da Europa, em particular – mas isso vale também para países de alto consumo histórico como a Argentina – o primeiro polo quase que se confunde com o mercado interno. O segundo, quase que se traduz pelos mercados importadores mais importantes de hoje, liderados pelos EUA.