Mês: janeiro 2016
Grandes vinhos, mas também os de dia-a-dia
Como é contribuir para uma escola de vinho, além de dar aulas esporádicas?
Anos atrás (uns 8) fiz a primeira proposta de curso, para o Senac de SP – um curso com vinhos de referência, que incluiria – de modo razoavelmente intensivo – os vinhos que servem de referência como produtos de excelência, seja nas uvas, seja no plantar, seja na vinificação. Pensava que para entender a Syrah/Shiraz, por que não começar pelo começo e fazer um passeio vínico pelos rótulos do Rhone alto, onde se concentram os Hermitage, Cornàs e Cote Rotie? Depois disso, por que não continuar com a Austrália e então viajar para quem está fazendo direito, como Portugal em torno de Lisboa, entre outros?
Seria um curso que mesclava origem e uva, mas com um tom acentuado na origem, o que me permitira juntar com outra ideia, na época apresentada à extinta Grand Vin – porque não viajar fisicamente ao local de origem?
Assim, usando ainda a Syrah como exemplo, montaríamos um grupo de enófilos e/ou sommeliers para desenvolver um conhecimento preciso.
Evidentemente, o exemplo serve como tal, visto que basta mudar a uva e a região para mapearmos o que há de forte em uvas por todos os países que deram origem a alguma uva que se internacionalizou – como as borbolesas e borgonhesas – ou continuaram vinculadas a uma região precisa – como a nebbiolo e a tempranillo, por exemplo – que apesar de tantas investidas do Novo Mundo, continuam tendo seus postos de origem como referência.
E quem faria um curso desses? Tinha imaginado um ano inteiro de aula, com no mínimo dois encontros de 3 horas/aula cada por semana.
Com isso, pretendia fugir um pouco da tendência que já estava com sua maturidade avançada de associar um vinho a uma uva, quando na verdade, associava-se o vinho, a um terroir e uma determinada vinificação, que incluía malolática completa, micro-oxigenação e madeira nova.
Hoje vejo um pouco diferente. Um curso legal deve sim manter-se apresentando vinhos de referência, mas mesclados – desde já – com grandes vinhos que se seguiram. Vejo mais: as uvas tornaram-se um pouco guias confiáveis, além dos suas características organolépticas primárias, por mais que continue existindo um mercado ingênuo que paga 20% ou mais pelo marketing desta ou daquela uva, sem que a dita cuja se aplique ao que se quer vender.
Na época, provocava – ah, você gosta de Carmenere? Qual Carmenere, a Ventisquero de entrada no mercado, o mais baratinho deles, ou o Clos de Apalta Lapostolle, excelência da uva, vinho presente entre os melhores cinco do mundo, ao menos 3 vezes no início deste milênio (WineSpectator)?
A provocação tem solução didática. Hoje pensei em apresentar os grandes vinhos de cada região e cepa pelo preço que isto custe. Seriam, nesta fórmula, 4 encontros para cada uva, concentrados num fim de semana longo… Mas antes disso, no dia anterior, teríamos um dia daquela uva no dia-a-dia. Pois é legal saber o que se faz com menos de R$50,00 para tentar conhecer uma uva em sua versão mais acessível. Pois nesta faixa existem vinhos bem feitos, que merecem destaque e é isso que pretendo procurar.