Animavinum – muito mais do que a importação de uma boa ideia

Animavinum Brasil é – em princípio e até prova em contrário – representante para o Brasil da Animavinum francesa, um grupo de pequenos produtores franceses, uma centena deles, que têm como símbolo uma lesma carregando um barril de vinho (escargot soa mais elegante que lesma, mas o que posso fazer? Faz parte do meu trabalho traduzir!).

Diz o site da Animavinum francês, que o escargot foi escolhido como símbolo, porque é cuidadoso na escolha da terra, é persistente, mesmo que lento, não usa nada mais do que suas próprias ferramentas de trabalho para realizar o que há de mais saudável (Mesmo você que não come escargot, pode, com bom humor e boa dose de boa vontade entender e aceitar a analogia, não é)!

Trata-se de um grupo especializado em vinhos da Borgonha, gente que vende no leilão do secular Hospices de Beaune, mas que reúne comercialmente também produtores de Champagne, Loire, Beaujolais e Rhone, vinhos ditos orgânicos (bio), desde que irmanados no objetivo de “defender vinhos feitos por pessoas apaixonadas e apaixonantes, ao contrário dos vinhos industriais, de homens e mulheres que cultivam as vinhas… Caminhando no sentido de reencontrar os artesãos do gosto, selecionando o que encontramos de melhor”…”O respeito à terra e ao ambiente, a relação entre qualidade e preço, a capacidade de uma prática artesanal, a atenção detalhada e cuidadosa dos pequenos lotes… Nós cultivamos a ideia de que o bom vinho se faz principalmente no campo e não na cantina . Nossos vinhos são quase sempre de velhas vinhas com mais de 40 anos.”

Do alto dos meus ranzinzas 66 anos, vejo meio incrédulo este tipo de manifestação contra os grandes, contra a indústria, por mais que torça para eles. Vejam no que deu esta esta mesma conversa no âmbito da cervejaria dita artesanal – nada mais do que um caminho aberto para um lucro crescente das grandes incorporações, que compram a rodo as pequenas que se destacam, mundo afora. É óbvio que alguns se salvam, outros crescem até chegar num ponto de equilíbrio que lhes possibilita vida longa, mas no geral, caem na malha fina dos investimentos, da distribuição, dos impostos.

É assim tradicionalmente no mundo do vinho também, por mais que haja – nos dias de hoje – conhecimento enológico suficiente para sustentar com ferramentas sempre mais precisas o abandono de práticas que só empobreciam o solo, poluíam o ambiente e faziam mal aos consumidores.

Mas afinal não há nada de tão novo assim, quando pensamos em produtores de sucesso absoluto no mercado como Chapoutier e Domaine Royal fazendo uso de técnicas ditas orgânicas há tantos e tantos anos, podemos acreditar que grandes vinhos se pode fazer – em determinadas condições de solo e clima – sem qualquer assistência de defensivos, por mais que hoje isso pode ser controlado, por mais que se possa trabalhar sem erosão, sem poluição dos lençóis freáticos, sem males aos consumidores.

O que irrita mesmo são os elitistas de plantão que descobrem no produto “orgânico” a quinta essência da pureza. Este discurso purista abre um largo espaço aos oportunistas da vez, que tratam de ocupar o nicho com produtos cuja única vantagem é não ter defensivos… O que lhes parece dar o direito de custar 30% a 40% mais, mesmo que sejam medíocres como vinhos. Mas o que fazer, este discurso do orgânico parece blindar os produtores mal intencionados aos olhos de tanta gente inocente que gostam de levar gato por lebre, na tentativa de ser up-to-date people.

Introdução feita, digo que a Animavinum Brasil quer que se descubra uma Borgonha dos sonhos de todos, uma Borgonha acessível.

Anima1
Anna rita Zanier, ex-Expand e com mais de 20 anos no mundo do vinho no país, com mais horas de aula sobre vinho dadas do que qualquer outro professor da matéria por aqui, responsável pela Animavinum Brasil

Trouxe para o Brasil e disponibilizou alguns dos produtos deste grupo francês – 5 tintos e 5 brancos (entre eles um cremant) cujo preço varia de R$135,00 a R$270,00. Não é de graça, mas se considerarmos que os de maior preço são um premier cru (Chablis), um Cote de Nuits, e um Vieilles Vignes Premier Cru (Givry), até que está razoável.

São produtores que na grande maioria não têm mais do que 4 ha de plantas e produzem pouca coisa, mesmo para os padrões borgonheses.

anima2Um exemplo dos vinhos da Animavinum é o TONNERRE LE CLOS DU CHÂTEAU 2014, do VIGNOBLES DAMPT, um vinho cuja produção é 6000 garrafas e que na França custa menos de 10Euros.  A preocupação com o frescor da fruta e a mineralidade, leva à educação em carvalho apenas parcela, depois de lenta vinificação, para depois educar-se em tonel de carvalho em parte, para preservar melhor toda amplitude do chardonnay. Suas 6000 garrafas sugerem um preço muito maior para um produto, de acordo com os preços que se pratica normalmente no Brasil.

Mas a Animavinum Brasil já sabe que de vinho da Borgonha não se vive neste país, mas em vez de abrir um leque de importação, prefere criar um excelente corpo-a-corpo com o pessoal do baixo Pinheiros, que tem se especializado em aquecer a noitada da moçada da faixa 30/40 anos, gente nem sempre tão descolada, mas com algum dinheiro no bolso.

Gente que fez suas reservas nos vizinhos Ruela e Braz dos entornos e quer chegar no restaurante com uma carga energética que faça a janta ficar menos salgada e mais movimentada.

anima5A ideia é trazer esta moçada para uma taça generosa de algum vinho varietal, junto com uma porção de mortadela ou copa italianas, sofisticadamente fatiadas num Rolls-Royce da indústria dos embutidos, a Berkel.

Animavinum dá cursos de vinho para iniciantes. Cabem em suas duas mesas, algo em torno de 25 pessoas. Prepara pequenas festas, vende os vinhos que oferece em taças.

Animavinum, Rua Ferreira de Araújo 329, tel.30321918, annarita@animavinum.com.br

PS – não tenha medo das lesmas da Animavinum francesa, elas não frequentam a Animavinum brasileira (ehehehe)

Animavinum, estamos torcendo por você!!!