Dona Berta. Um bom Rabigato no meio do Douro

Olhando de longe, parecia que tinha descoberto a pólvora, entusiasmado que fiquei com o primeiro Rabigato 100% que pude provar, Quinta da Mieirao Quinta da Mieira 2010. Com ótimo trabalho de vinificação a uva se mostrava poderosa, capaz de ser vista até como uma parente – não tão distante – de um chardonnay, versão Petit Chablis. O solo era isso aí:

Solo da Foz de Côa
Solo da Fóz de Côa – Douro, acima de Régua

A uva, pouco se sabia dela fora de Portugal, até no Douro entrava apenas naquelas misturebas sem cuidado, entre Verdelho e Viozinho, sabe como é? E quem ligava tanto para o vinho branco da região, quando se olhasse para um lado ia ver Alvarinho e Loureiro, se olhasse pra baixo, Antão Vaz e Arinto, além de tantas outras secundárias.

E o estouro regional, quando ganhou independência da ditadura dos vinhos do Porto, que sugaram suas forças desde o Marquês de Pombal, foram os grandes tintos, a começar pelos da Ferreirinha, seguidos por tantos outros, entre eles os que formam o grupo Porto Boys – Quinta do Vallado, Niepoort, Quinta do Crasto, Quinta Vale D. Maria e Quinta do Vale Meão. Todos grandes e indiscutíveis!

Dona Berta, faz Rabigato desde antes da minha descoberta da pólvora. Estava lá, como atesta prova vertical de pouco tempo, desde ao menos 2005. Os que provei, Vinha Centenária um 2010 , garrafeira também 2010, mostraram-se melhor envelhecidos do que o Quinta da Mieira 2010, que, com o tempo, oxidou de vez. Mesmo assim, uma ponta de evolução no Garrafeira pode se notar, tanto no nariz quanto na boca.

Dona Berta GarrafeiraDe vinificação com o mínimo de interferência em ovo de cimento – tanto que a temperatura da fermentação mantém-se abaixo dos 17ºC por força de o vinho estar envolto pelas águas de um poço que faz com que o vinho fermente a baixas temperaturas naturalmente. O contato com as borras finas, a qualidade da uva e todo o cuidado no trato, faz deste vinho algo de extraordinário, traz a Rabigato para o palco das grandes uvas brancas do mundo.DSC_5043

Tem elegância, delicadeza e cremosidade para tanto. Mostrou que o ganho de complexidade devido à idade não é indesejável, ao menos para quem aprecia os grandes vinhos da Europa.

Rabigato à parte, os tintos chamaram também a atenção pelos inusitados monovarietais, não muito incentivados na região, quem sabe porque aí temos grandes vinhos para se comparar.

Sousão e Tinto Cão estrearam em solos próprios, mas desafinaram aqui e ali, o que não ocorreu com o Reserva Tinto 2012, um típico Tinta Roriz, Tourigas e Tinto Cão, que respondeu perfeitamente aos chamados do nariz e da boca. É verdade que os que causaram estranhamento levam o benefício da novidade, mas espero poder conhecer o melhor vinho da Casa, um Vinha Centenária Reserva Tinto, que faz furor Península afora, tanto que anda sendo convocado para representar Portugal em grandes recepções oficiais.

2 comentários em “Dona Berta. Um bom Rabigato no meio do Douro

  1. Portugal, meu avózinho.

    Só um idioma que se respeita pode ter um vocábulo lindo como ‘Garrafeira’. Pois não? Venha de lá uma garrafeira da Berta, qu’esperas, ó cutruca!

    Belo artigo, sr zelatore das uvas.

    A merda é que ler essas tuas descobertas, a merda é a grana, porque dá vontade de encher taças d’almas.

    A Dona Berta é prima irmã da Dona Benta, o que há de garrafeiras lá dela no Picapau Amarelo, não te imaginas, pá.

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