– Agghhhh, que vinho ruim. Você não podia ter trazido algo melhor?
Foi assim que fui recebido e gozado num jantar em pizzaria que um amigo convidou, em comemoração ao aniversário dele.
Estavam presentes mais 3 convivas que comigo e o aniversariante, completava uma mesa de 5.
Levei o vinho de presente, um Brunello di Montalcino que merecia respirar por ao menos, por no mínimo, no limite, UMA HORA E MEIA.
Pois o trouxa do aniversariante – por mais que eu protestasse – mandou abrir e servir.
Então pedi um vinho da casa para todos, um vinho fácil de beber com pizza, muita acidez e frescor, taninos de baixa complexidade, vinho que na pizzaria não passava de R$70,00. Disse que ficassem tranquilos, pagava eu
– Mas não basta a merda do vinho que você trouxe?
O pessoal tinha conhecimento e ao menos dois deles já tinham ouvido falar de Brunello, mas estes eram os mais inconformados.
-Deixem o vinho que eu trouxe, bebam deste que acabei de comprar.
A questão do vinho voltava à conversa, todos amigos, com intimidade para me pegar no pé. Mas obviamente, era gente que tinha o que contar, gente de boa índole e otimamente formação, alguns deles professores universitários, das mais consagradas universidades deste país. Alguns se conheciam há mais de 20 anos, como era o nosso caso, do aniversariante e eu, que tínhamos feito parte de nossa faculdade juntos, por algo como 3 anos.
A uma determinada hora, muitos pedaços de pizza depois, disse que tinha começado a chegar a hora de tomar o vinho, que finalmente ele já tinha envelhecido um pouco, pela ação do oxigênio do ar.
Disse, queria dar uma oportunidade a provarem um dos melhores vinhos que jamais tinham tomado.
– Tomem de novo, vejam se continua uma merda!
O envelhecimento em taça, a hora e meia que o vinho se manteve lá, foi suficiente para que tivesse mudado do vinagre para o vinho. O oxigênio tinha feito o seu papel de amansar os taninos fogosos, permitindo que ele mostrasse suas frutas, suas especiarias, suas qualidades em boca, que fizeram da região uma das mais consideradas no mundo inteiro.
Todos se olharam com cara de bobo e último a rir fui eu.
Dos melhores Fernandos Sabino, um caso, traquilo e ameno, um paulista cariocando, gol, Tovarich!