
Tudo deu certo, os investidores, os vinhos e a comida investida, o clima (Weather), o clima (friendship) e o clima (reflexions, details ecc. ).
Nem todos as taças, mas boa parte deles.
A idéia era aproveitar meu ataque de humildade, aquele que me acomete toda vez que vou visitar coisas que não conheço no mundo do vinho e descubro que estou tão longe de atingir a meta do completo conhecimento quanto o arqueiro que pretende atingir a lua com sua flecha, como dita a velha historinha chinesa contada em círculo de gente que luta.
Imagine só, não conhecia nada sobre o Asprino di Aversa, uma uva autóctone de bago branco da região de Nápoles, usada como barreira de proteção contra os inimigos dos Bourbon, diz a lenda. As vezes cultivada ainda em arbusto, chega a ter mais de 15 metros de altura e não foi dizimada pela filoxera, apresentando, ainda hoje, plantas com 200 anos de idade a todo vapor vegetal.
Para ornar a degustação, entradas italianas, entre berinjelas, pimentões sott’oleo, Sals Ver (molho piemontês que reune pão molho em vinagre, salsinha de montão, um pouco de alho, azeite e anchovas) com salsão e cenouras…
foto apenas ilustrativa, porque esqueci de fotografar os pratos.
Como primeiro prato, um macarrão que deixou a moçada tonta, do visual ao nariz, deste à boca: o molho de inspiração no Cacciuco livornês, com peixe de rocha, mexilhão, camarão grelhado, lula com a sua tinta, tomate e cebolinhas inteiros grelhados. No serviço, cada elemento ocupando a parte externa do prato, tendo o macarrão no centro do todo. A tinta sujou o prato, mas a sujeira limpou, o prato ficou de se comer de joelhos.
Maminha assada a 70ºC por 12horas
Como segundo um stracotto que ninguém supera, só pode fazer tão bom, melhor não vale. Maminha que depois de selada em cebola e alho na manteiga escura, recebeu uma garrafa de vinho branco para evaporar rapidamente e depois uma garrafa de vinho tinto para ficar conversando pelas 12 horas seguintes, à velocidade mais baixa que o forno elétrico pode fornecer, algo em torno dos 60ºC/70ºC. Depois de tanto andar devagar, ficou despedaçante, tão bom quanto a do Santo Colomba, que me inspirou. Para acompanhar, um purê de pinhão e batatas ao murro, enfeitadas com pedaços mínimos de toucinho assado.
Desta vez, nada de tanta pompa e circunstancia para avaliar os vinhos. Normalmente fazemos avaliação vinho a vinho com duas degustações às cegas, a primeira sem e a segunda com comida.
Aqui não havia porque comparar assim, servidos que estavam bananas e maçãs, ou seja, coisas que não se comparam, um Barolo e um Ripasso, um Aglianico e um Barbera…não há termos de comparação, a não ser maior ou menor afinidade com aquele resultado palativo. Sim, poderia haver sim defeitos perceptíveis, como um cheiro de estábulo que nos remetesse a um problema de higiene etc. Mas não era o caso, não havia o que comparar.
Diferente são os casos que em que os vinhos pretendem atingir um resultado similar, a partir, por exemplo, do uso da mesma uva, mesmo que de clones diferentes. Ou então vinhos da mesma região, submetidos a um mesmo tratamento de solo e clima. Aqui não, aqui não.
COMENTÁRIOS SOBRE OS VINHOS
Harmonização garantida, desde o começo, pois seja o macarrão – cujo tempero levava vinho branco, frutos do mar grelhados no alho picado e vinho branco – seja a carne – que tinha o vinho tinto e o salsão como principais complementos de sabor – não eram em nada difíceis de harmonizar. E, como havia vários vinhos na mesa, não deu tempo sequer para enjoar dos mais novos. Alguém estranhou o forte sabor sem grandes nuances do Barolo, não por acaso, alguém mais acostumado a vinhos andinos. Alguém descartou a importância do tinto napolitano, mas pareceu unânime a aprovação por todos.
Como sugeriu um dos participantes, todos os vinhos mereciam nota alta, a degustação foi um sucesso no quesito vinho.




- Entre um Barolo moderno, pronto para beber, apesar da pouca idade, mas com todas as características exigidas pelo Doc, além de apresentar uma inusitada menção geográfica de origem, pois Serradenari – de onde vem – apesar de ser autorizada a produzir Barolo não é usual; um Valpolicella di Ripasso típico, seja pela tipicidade regional, seja pela tipicidade da vinificação – que lhe garante um álcool a mais do que o Valpolicella Classico que lhe dá estrutura, e um álcool a menos, além de menos dulçor e fruta do que o Amarone que lhe empresta suas peles usadas; um Barbera Superiore que afasta definitivamente a velha impressão que se tinha desta uva, quando era feita apenas como acompanhante de corte para os nobres nebiollos; a novidade veio de Nápoles, também nos tintos, pois o Aglianico da Campania – a uva nativa da Italia com o DNA mais antigo – surpreende com um vigor impressionante. Quem pensava que o sul da Bota se contentava com Nero Davola, Primitivo e outros, agora já não pensa mais assim.
Hummm.