Pela Itália no pátio da minha casa

os vinhos da noite
Pizzato Brut RoséAsprino di Aversa DOC Tenuta Fontana – Barbera D’Asti Superiore Solerita – Ripasso di Valpolicella 2014 Costa Mediana – Barolo DOCG Serradenari Menzione Geografica Aggiuntiva Giula Negri – Campania Aglianico IGT Tenuta Fontana

Tudo deu certo, os investidores, os vinhos e a comida investida, o clima (Weather), o clima (friendship) e o clima (reflexions, details ecc. ).

A idéia era aproveitar meu ataque de humildade, aquele que me acomete toda vez que vou visitar coisas que não conheço no mundo do vinho e descubro que estou tão longe de atingir a meta do completo conhecimento quanto o arqueiro que pretende atingir a lua com sua flecha, como dita a velha historinha chinesa contada em círculo de gente que luta.

Imagine só, não conhecia nada sobre o Asprino di Aversa, uma uva autóctone de bago branco da região de Nápoles, usada como barreira de proteção contra os inimigos dos Bourbon, diz a lenda. As vezes cultivada ainda em arbusto, chega a ter mais de 15 metros de altura e não foi dizimada pela filoxera, apresentando, ainda hoje, plantas com 200 anos de idade a todo vapor vegetal.

Para ornar a degustação, entradas italianas, entre berinjelas, pimentões sott’oleo, Sals Ver (molho piemontês que reune pão molho em vinagre, salsinha de montão, um pouco de alho, azeite e anchovas) com salsão e cenouras…

Como primeiro prato, um macarrão que deixou a moçada tonta, do visual ao nariz, deste à boca: o molho de inspiração no Cacciuco livornês, com peixe de rocha, mexilhão, camarão grelhado, lula com a sua tinta, tomate e cebolinhas inteiros grelhados. No serviço, cada elemento ocupando a parte externa do prato, tendo o macarrão no centro do todo. A tinta sujou o prato, mas a sujeira limpou, o prato ficou de se comer de joelhos.

Como segundo um stracotto que ninguém supera, só pode fazer tão bom, melhor não vale. Maminha que depois de selada em cebola e alho na manteiga escura, recebeu uma garrafa de vinho branco para evaporar rapidamente e depois uma garrafa de vinho tinto para ficar conversando pelas 12 horas seguintes, à velocidade mais baixa que o forno elétrico pode fornecer, algo em torno dos 60ºC/70ºC. Depois de tanto andar devagar, ficou despedaçante, tão bom quanto a do Santo Colomba, que me inspirou. Para acompanhar, um purê de pinhão e batatas ao murro, enfeitadas com pedaços mínimos de toucinho assado.

Desta vez, nada de tanta pompa e circunstancia para avaliar os vinhos. Normalmente fazemos avaliação vinho a vinho com duas degustações às cegas, a primeira sem e a segunda com comida.

Aqui não havia porque comparar assim, servidos que estavam bananas e maçãs, ou seja, coisas que não se comparam, um Barolo e um Ripasso, um Aglianico e um Barbera…não há termos de comparação, a não ser maior ou menor afinidade com aquele resultado palativo. Sim, poderia haver sim defeitos perceptíveis, como um cheiro de estábulo que nos remetesse a um problema de higiene etc. Mas não era o caso, não havia o que comparar.

Diferente são os casos que em que os vinhos pretendem atingir um resultado similar, a partir, por exemplo, do uso da mesma uva, mesmo que de clones diferentes. Ou então vinhos da mesma região, submetidos a um mesmo tratamento de solo e clima. Aqui não, aqui não.

COMENTÁRIOS SOBRE OS VINHOS

Harmonização garantida, desde o começo, pois seja o macarrão – cujo tempero levava vinho branco, frutos do mar grelhados no alho picado e vinho branco – seja a carne – que tinha o vinho tinto e o salsão como principais complementos de sabor – não eram em nada difíceis de harmonizar. E, como havia vários vinhos na mesa, não deu tempo sequer para enjoar dos mais novos. Alguém estranhou o forte sabor sem grandes nuances do Barolo, não por acaso, alguém mais acostumado a vinhos andinos. Alguém descartou a importância do tinto napolitano, mas pareceu unânime a aprovação por todos.

Como sugeriu um dos participantes, todos os vinhos mereciam nota alta, a degustação foi um sucesso no quesito vinho.

Tenuta Fontana, Civico 44, Asprinio di Aversa – Fermentação e maturação em aço por seis meses sobre as borras finas. 12,5% de álcool. Cítrico, maçã, pêssego, pétala de flor branca. Acidez intensa, seco, refrescante.
Vinho que complementa a degustação dos brancos italianos, mesmo sendo um português, cuja principal característica é não ser nada amistoso. Vinho ascético, sem qualquer divertimento frutado, na boca ou no nariz. Ótimo para a gastronomia, péssimo para bebericar.ΩΩΩΩ
Mais uma oportunidade do Pizzato Rosé Brut mostrar que os espumantes brasileiros estão num nível além do internacional. Sem esta bobagem de um vinho mais brasileiro, ou seja, menos encorpado, menos importante, rivalizando com prosseccos e quetais. Espumante numerado, com menos de 13g de açúcar, com 75% de Pinot Noir, rivaliza com o que se faz em Champagne, com 12% de álcool, é um ótimo abre-alas, mas também uma ferramenta liquida para tocar um jantar inteiro.
  • Entre um Barolo moderno, pronto para beber, apesar da pouca idade, mas com todas as características exigidas pelo Doc, além de apresentar uma inusitada menção geográfica de origem, pois Serradenari – de onde vem – apesar de ser autorizada a produzir Barolo não é usual; um Valpolicella di Ripasso típico, seja pela tipicidade regional, seja pela tipicidade da vinificação – que lhe garante um álcool a mais do que o Valpolicella Classico que lhe dá estrutura, e um álcool a menos, além de menos dulçor e fruta do que o Amarone que lhe empresta suas peles usadas; um Barbera Superiore que afasta definitivamente a velha impressão que se tinha desta uva, quando era feita apenas como acompanhante de corte para os nobres nebiollos; a novidade veio de Nápoles, também nos tintos, pois o Aglianico da Campania – a uva nativa da Italia com o DNA mais antigo – surpreende com um vigor impressionante. Quem pensava que o sul da Bota se contentava com Nero Davola, Primitivo e outros, agora já não pensa mais assim.

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