A Grecia é algo mais do que um conjunto de ilhas cercada de mitos, polvos e ouriços por todos os lados. É mais do que o berço da civilização ocidental, maior consumidora de azeite da terra e um dos povos mais longevos, pois segue a risca uma dieta cheia de grãos de moléculas longas e menos de 10% de proteína animal, seja vinda da ovelha, seja vindo da fauna marinha.
A Grécia é, cada vez mais, um mundo de vinhos feitos de uvas autóctones, a altitudes variadas, com temperaturas diversas, com solos assim e assado.
Dentre suas uvas particulares, uma branca se destaca, a Assyrtiko, que tem sua sede genética em Santorini, mas singra os mares entre ilhas e adentra o continente europeu.
Parece ser a única uva branca que resistiu bravamente aos ataques da Filoxera. Procura-se uma razão plausível e certamente supõem-se que o solo arenoso impediu sua aproximação, fenômeno idêntico ao de outras áreas com uvas tintas, como em Toro na Espanha, onde pés francos apresentam-se como verdadeiros troféus de resistência.
O pulgão rasteiro não se movimenta em solo arenoso e com isso não atinge as raízes da planta. O efeito devastador foi bloqueado em Toro e em muitos outros lugares, entre eles destaco duas parcelas da Bollinger em Aÿ – produtivas até hoje – Clos Saint-Jacques e Chaudes Terres.
Pode ter sido eventualmente outra coisa: a ação dos vulcões presentes nas ilhas e ainda com alguma atividade, cujas cinzas podem ter expulsado de perto o faminto pulgão americano.
No caso deste Alpha Estate Assyrtiko, o mosto mantém-se em contato com as borras por 4 meses depois da fermentação, garantindo uma complexidade gastronômica, sem contudo perder o frescor e os perfumes peculiares garantidos pelo cuidado na colheita manual e na fermentação em cubas de aço a temperatura controlada.
Tudo isso rende muito prazer a quem pode investir em torno dos R$200,00/R$250,00 por 750ml deste nectar dos deuses.
Do outro lado da paleta de cores das uvas gregas, encontramos o mais significativo dos vinhos gregos tintos, o Xinomavro – comumente apelidado de o Nebbiolo Grego, porque mantém sua personalidade sem perder a similaridade com a uva italiana – a citada Nebbiolo – responsável pelo Vinho dos Reis, o Rei dos Vinhos, como é chamado cabotinamente o Barolo – o mais importante produto feito com a uva Nebbiolo – desde que recebeu a incumbência de complementar os banquetes da corte italiana em Turin, à imagem e semelhança dos Borgonhas na França e os Bordeaux na corte inglesa.
As cortes acabaram, mas a aspiração de tomar o vinho que um dia foi dos reis manteve acesa a chama comercial do Barolo, e usá-lo como referencia ao vinho grego, agrega valor, todo mundo quer conhecer o dito cujo.
Ainda mais neste caso, que se trata de um vinhas velhas de 90 anos, com 24 meses de barricas de carvalho Allier tosta fina de primeiro uso e mais um ano de garrafa antes da comercialização, um investimento que aproxima ainda mais a referencia do referido.
Moral da historia, vem tomando acima dos 94 pontos do Robert Parker, do Steven Spurrier, ano a ano.
Suas notas de degustação sempre contém frutos vermelhos, cerejas, alcaçuz e especiarias, em corpo denso com taninos aveludados.
Resta chorar pelo bolso, uma das partes mais sensíveis da nossa pobre organolepsia.
Tovarich, provável seja minha ignorância eletrônica, mas não consegui ler os mitos que não são engarrafados, mas vem da Grécia.
Abraço sem mitificação. ________________________________
Deu algum erro só veio o titulo