Vindo das profundezas mais profundas, a negra mão do capitalismo, a fonte de lucro das 7 irmãs, a mais lucrativa das matérias primas desde a segunda revolução industrial, o petróleo é finito, polui, deixa o ar fedido e é do mal… cada vez mais.
Mas, e não pela primeira vez na história, nasce deste mal um bem gerado por quem o possui.
Alejandro Bulgheroni, além de ter investimentos no ramo do petróleo no México, Argentina e outros, faz um Blend de vinícolas norte-americanas, argentinas, uruguaias e agora italianas, com a compra recente de três casas toscanas a partir de 2012, a Chianti Dievoli, e a homônima montalcina e agora a Meraviglia de Bolgheri.

Blend que ficou ainda mais famosa depois do grande prêmio conquistado pela Garzon, braço uruguaio da holding, como a mais interessante vinícola do mundo na Critic’sChoice Awards 2018, seja pela ousadia no relacionamento com os amantes de seus vinhos, seja como investimento, seja ainda como vinícola produtora de vinhos TOP que respeitam a sustentabilidade do ambiente em todos os níveis.
Bulgheroni mostra o tempo inteiro que não está para brincadeira, não está nem um pouco afim de ficar queimando dinheiro bom do velho combustível fóssil com esta novidade que nasceu apenas a 5 mil anos, o vinho. Ele ganha dinheiro, porque entendeu a essência do negócio, e parece que nunca deixou de entender. Como diz um artigo da GamberoRosso – quem sabe a mais antiga e prestigiada certificadora de vinho da Itália – dar-se o nome de Meraviglia à vinícola de Bolgari recém adquirida é assumir para si que é possível fazer o máximo na região, por mais que ela esteja impregnada de grandes produtores de excelência engarrafada. Com vista que domina a campanha de Bolgari, virgem de defensivos agrícolas e com alcance que nos leva até as montanhas da Córsega, a vinícola já disse a que veio, do ponto de vista de seus produtos de primeira qualidade.
Mas não vai ficar por aí, porque o que vai ser em 2022 vai reunir wineshop com sala de degustação de 120 m² e uma estrutura de ambientação da experiência vínica, como em todas outras vinícolas do grupo, aliás. Trata-se de investimento da ordem de 12 milhões de euros (cerca de R$55 milhões).
OS VINHOS – Mas nós viemos aqui para refletir sobre a economia que transforma combustível de maquinário em combustível de prazer ao corpo humano, ou para falar de vinho, este produto que quase nunca sabe manter seus amantes satisfeitos, que logo tem pensamentos infiéis à menor aparição de um rótulo novo?
Na degustação o que me agradou mais de todos é um produto menos importante, menos trabalhado, menos caro, aquele que quase cabe no meu bolso, falta só custar 2/3 mais barato!
É do Brizio Rosso di Montalcino que estou falando… ele passa por 12 meses de tonéis de 5400 litros de carvalho francês sem tostagem, marca do enólogo Alberto Antonini, o cara que se consagrou na Garzon.
Mas falo também, é o vinho que se quer à mesa, quando se trata de harmonizar com alguma comida mais suculenta, carente de uma acidez para complementar, uns taninos elegantes.
Sim, sim, está bem _ senti os identitários, as frutas vermelhas maduras, a cereja e morango, as especiarias, particularmente a pimenta do reino. Mas JAMAIS recomendo um vinho porque ele cheira a compota. Indico porque ele atende a expectativa, porque ele é uma expressão correta de um determinado vinho de uma determinada região. Pois este é um autêntico Rosso di Montalcino, só que mais elegante do que normalmente costumam ser.
Mas depois veio o irmão mais velho dele para a taça, muito tudo, madeira, concentração, compota de tudo aquilo que tem no Rosso, mas multiplicado a enésima vez, tornando-se, no meu entender, um vinho enjoativo à segunda taça, fruto 4 anos de madeira, exigência da Denominação que quer manter este padrão de vinhos clássicos.
Numa versão custa mais de R$650, na outra, quase R$1000.
Ai, tiro da manga a valorosa reflexão do Slowfoodista di Bergamo, Luigi Veronelli, o primeiro grande pensador do mercado odierno de vinho – Estes aí me trarão 3 e 5 vezes mais prazer que o Rosso di Montalcino? Não, certamente não. Eu sei que encho o saco de quem adora aqueles vinhos sem qualquer transparência, com muitíssimo álcool e nenhuma preocupação em ser gastronômico, levando a consequências desagradáveis o que se fazia antigamente. Afinal, afinar um vinho com madeira exagerada era o recurso que se tinha para cumprir a malolática, usar de madeira em toneis que respiravam/oxigenavam o produto, numa espécie de processo constante. Mesmo assim, o bom Barolo, com 36 meses de madeira e ao menos 24 meses de garrafa, ainda precisava de uma boa hora e meia respirando na taça, na jarra ou no decanter…
Mas então, fui levado a degustar o grande vinho da tarde.
Ué, mas eu não disse que o que agradou mais foi o Rosso di Montalcino? Em matéria de vinho, a infidelidade é tamanha, que no espaço de um artigo, o cronista tende a se desmentir várias vezes. Mas neste caso é justificado, acho eu, por uma coisa além do vinho, além da simples descrição e adição dos organolépticos. É que o cara foi apresentado depois do Brunello e foi morto por esta ordem.
Como parêntesis já vi muito disso, e com a melhor das intenções: por exemplo, um amigo trouxe num jantar para 10 pessoas, 3 grandes crus de Bordeaux e um de Borgonha. Obviamente estamos falando de alguém que conhece e tem grandes vinhos para dar e vender. O Grand Cru do leste – um ótimo Gevrey Chambertin – foi simplesmente massacrado, particularmente porque foi servido depois dos outros e não tinha tanta concentração…dançou.
Me refiro ao Meraviglia Bolgheri, que veio depois de tudo. Como fazer?
Custa mais ou menos o que custa o Rosso, um pouco menos de R$300,00. Tem um ano de madeira francesa em barrica de 225 litros, tosta fina. É um corte de 30% Cabernet Franc, sendo o resto da outra Cabernet. Tudo que se espera de um vinho gastronômico está lá.
Por fim, agradeço à produção de petróleo que proporciona vinhos desta qualidade!