No banco de reserva do Chile

Degustação ChileNo fim de Março, montei uma degustação com estes chilenos da foto acima, logo depois de termos nos aventurado por terreno norte-americano, mês passado, quando a costa californiana foi explorada por uma bateria exagerada de 11 tintos, além de brancos.

A maioria formada de vinhos consagrados como o Errazuriz Max Reserva Merlot, o Coyan, o Alba Domus, o Quinta Geração da Casa Silva e o 5 Winemakers masculino, além de um grupo menos conhecido formado por dois vinhos da Chilca’s – o Red One e o Reserva Cabernet Franc – e um penetra, como é comum nas degustações às cegas que promovo: o nosso Millesime Cabernet Sauvignon da Aurora 2004, um vinho que andou tendo a supervisão enológica do Mario Geisse, um chileno de origem, mas quase brasileiro de tanto que ele tem a ver com o desenvolvimento do vinho no Brasil.

A comida do La Frontera (http://www.restaurantelafrontera.com.brcomeçou com ceviche e brandade de bacalhau, para terminar com uma bela massa recheada com rabo de boi desengordurado e desfiado, impecáveis os três.

Tudo bem, a não ser pelo grupo de degustadores, extremamente mal acostumado, intensamente mal humorado para com determinado estilo de vinho.

Os mais ousados e bocudos chegaram a dizer que o Coyan mais lembrava groselha Milano do que vinho, vejam só. Um verdadeiro xingamento para um vinho cantado em verso e prosa pelos orgânicos que o adoram, desbravador que foi deste nicho de mercado no Chile.

Desculpem o grupo, eles sabem o que fazem, estão acostumados a reclamar, gostam mesmo dos velhos vinhos que apontam em direção à elegância, ao equilíbrio, à comida.

Sou como eles, faço parte desta turma de reclamões, viajamos longamente pelos países europeus de língua latina e lá nos sentimos mais confortáveis, sem esta pegada dos vinhos chilenos de antão, com forte “sweet attack”, que tanto conquistou mentes e bolsos norte-americanos, 20 anos atrás.

Do ponto de vista da turma da vaia, os tais vinhos são bem feitos, não apresentam problemas de precocidade na colheita nem álcool demais, mas o salto aromático da compota de frutas e a presença cansativa da madeira impregnaram a degustação, na opinião de boa parte dos participantes.

Quero sugerir uma coisa que já me ocorreu outras vezes: estes vinhos, da faixa de preço em torno dos R$150,00 em solo paulista, são como reservas de grandes times de futebol. Servem para compor mas não são os protagonistas, como o Almaviva, o Casa Marin, o Maximiniano etc.

Não sabem exatamente qual é o seu público-alvo, pois nem são sisudas versões de grandes bordoleses – cujo melhor exemplo chileno é o Clos Apalta Lapostolle – nem tão docinho e palatável como um Ventisquero Carmenère de entrada. Fazem, em boa parte das vezes, um vinho na metade do caminho da elegância e da exuberância.

Agradam sim, têm fortes seguidores… Mas meu grupo é cruel com este caminho do meio, são capazes de apreciar um vinho simples, que custa pouco, mas implacáveis quando o vinho custa e não apresenta na taça ao que veio.

Assim, foram coerentes ao darem destaque aos dois mais simples da amostra: Aurora MIllesime e Chilca’s Cabernet Franc, que acabaram se comportando bem, no meio de vinhos que custam o dobro, o triplo, o quádruplo deles.

Sem comida, o Chilca’s levou 9 votos, ganhou de todo mundo, e o Aurora angariou 4 votos; com comida o Chilca’s caiu para 5 votos, enquanto o Aurora se manteve em seus honrosos 4 votos.

O Errazuriz Max Reserva Merlot foi mal na degustação sem comida, apenas 1 voto. Mas se redimiu completamente quando a massa recheada chegou, conseguindo 7 indicações.

O 5 winemakers, o mais caro da turma, custando mais do dobro do segundo mais caro, foi muitíssimo bem sem comida, 8 votos, mas caiu brutalmente para 2 votos quando a comida chegou.

O campeão de degustação, o Alba Domus, comportou-se além das críticas, mostrando equilíbrio e potência, sem cair no nhenhenhem dos vinhos novomundista, atraindo para si 8 votos na primeira passagem, 6 na segunda.

Destaco também o grande vinho da Casa Silva, o 5 Generaciones, que apesar de passar sem grandes elogios pela primeira seleção, foi a melhor depois que a comida chegou.

Vamos pra próxima?

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