Entrevista com Andrea Leon, enóloga e responsável pela comunicação da Lapostolle
Borobó é Syrah e Pinot Noir em partes iguais; Carmenere e Merlot em partes um pouco menores… E finalmente cabernet sauvignon. Parece coisa de bêbado, né não?
Respondendo à minha pergunta sobre o vinho acima – Borobó – Andrea Leon, enóloga e responsável pela comunicação da casa Lapostolle, fala meio sem jeito da criatura de Michel Rolland, o Borobó, exatamente o vinho que queria saber mais. Evidentemente Borobó não deve ser uma saia justa para quem está na sua posição.
Temos na Suíça alguma coisa que mistura Syrah e Pinot Noir, vinhos não muito consagrados. Temos a partir da experiência australiana uma mescla bem sucedida de Cabernet Sauvignon e Syrah. Temos alguma coisa na própria Clos Apalta com Cabernet e carmenere, muito bem sucedida e aclamada pelo mundo inteiro, mas este não vale, é um resgate de uvas bordolesas autorizadas a se misturarem desde os primórdios de Bordeaux, de acordo com Hugh Johnson, em sua História do Vinho.
- Não está na linha da enologia que mais me identifico, embora evidentemente é um vinho cujo padrão de qualidade tem a marca dos outros tantos que fazemos. É um vinho cujo desafio é ser mais aromático e frutado na boca, sem perda de elegância e complexidade. É ousado, reconheço, creio até que muitos consumidores não o veem com o melhor dos olhos, mas começa a seguir uma carreira suficientemente bem sucedida.
Pois, diz a jovem, simpática e experiente enóloga, o Pinot Noir, entra na mescla para dar um toque de frescor na seriedade sisuda do resto, um vinho nobre. Fui procurar o que os mais consagrados dizem sobre os Lapostolle mais recentes e o Borobó aparece especialmente destacado em poucos certificadores, como a AWOCA, enquanto que os seus irmãos Clos Apalta, Cuvée Alexandre e os Collections estão bem melhor na foto mundial.
No sentido contrário, os vinhos inovadores da Collection, de responsabilidade direta da própria Andrea, 3 vinhos, 3 terroir, uma só uva, um só tratamento em cantina vem ganhando todos os aplausos (fico devendo uma boa foto.)
Um Carmenere Cordilheira, um outro Pacífico e um terceiro Entrecordilheiras. Para o Descorchados, o primeiro merece 91, o segundo 92 e o terceiro 95. Para o crítico que vos escreve, o feito perto do mar é melhor do que os outros, quase sem comparação. Mas resta que os três juntos são dessas experiências práticas que poucas vezes podemos ter. Normalmente, o que a vinícola nos fornece é dois ou mais vinhos, todos da mesma vinha, um primeiro mais jovem, um outro com mais madeira e até um terceiro ainda mais afinado. Aqui trata-se de uma aula de terroir e de humildade para quem acha que gosta de algum vinho por conta da uva que é feito. E o legal, é que a didática é clara – um é diferente do outro, do jeito que 3 vinhos podem ser!
Terminamos a conversa com taças do Casa Chardonnay nas mãos. Com uma sinceridade cortante, Andrea se diz pouco satisfeita com o que conseguem fazer até hoje com os brancos. Uma casa como esta, vinculada à França até o último fio dos cabelos, não se contenta com vinhos apenas frescos e ácidos, tenta dar mais complexidade e identidade com 1/3 passando por madeira de vários usos, brecando a fermentação secundária. É um bom vinho, digno da casa, mas não chega no plano dos tintos, não permite que se cobre do público o mesmo que se pode cobrar dos tintos. O mesmo para o Sauvignon Blanc e para o Semillon, vinhos que vão para o lado Graves dos brancos franceses, enquanto o primeiro vai para o leste. Legal ouvir isso de quem é responsável pela comunicação da vinícola, é quase um testamento de compromisso pelo que virá!