Ainda VinItaly, agora em versão caseira

img_13753.jpgOs vinhos foram devidamente apresentados em matéria anterior, agora era o caso de prova-los com comida, pois, como venho dizendo, em muitos anos de degustação jamais vi um vinho ser avaliado da mesma forma, com e sem comida. Quero dizer, em degustações às cegas onde uma bateria de vinhos foi degustada sem comida e depois com comida, jamais a ordem inicial foi mantida. Teve caso do primeiro colocado ir para o 6º lugar em 9 mostras!

Por isso, me senti na obrigação de apresentar para 10 pessoas, todos habituées na arte do degustar, 3 pratos principais para melhor avaliar os vinhos. Um para o Bachero, vinho muito estruturado com Verdichio (Brandade de Morue), outro para o Grumello (Bollito Misto), um delicioso Valtelina de nebbiolo que já tinha me impressionado profundamente e dois para o potente Brunello di Montalcino (Bruschetta com stracotto di ragbo e fetucini a Alfredo di Roma), deixando para o Barolo a passagem entre o segundo e os terceiros pratos.

Bachero – IMG_137512,5%, Verdicchio 85% + uvas autorizadas da região, vinho da Provincia de Ancona com base na região conhecida por  Castelli di Jesi, banhada pelo rio Esino. Me impressionou na VinItaly, IMG_1029 (1)muito pela cor intensa, perfume delicado e persistente de fruta e flor. Na boca é equilibrado e persistente com retrogosto ligeiramente amargo, como é típico desta uva.

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Foi admiravelmente bem quando chamado a compor um par com o Bacalá affumicato, servido sobre uma fatia de batata assada, ostras, marisco e vieira.

 

Grumello – grumello-bassa_cut-600x428Este Valtelina me impressionou bastante, até tentei fazer uma boa entrevista com o responsável pela assessoria de imprensa do Conzórcio dos Vinhos de Valtelina, mas não resultou em grande coisa do ponto de vista jornalístico, porque o gajo começou a puxar a sardinha para o lado de um determinado produtor, que depois descobri, era da sua família… De qualquer jeito, degustei vários produtores, alguns excepcionais, como a Scersé, aqui já citada em outro artigo.

img_13752.jpgPara este vinho do norte da Lombardia, feito de 90% de nebbiolo ou mais, com características que lembram os grandes vinhos do leste da França, entre os pinot noir e os gamay, agradavelmente tânico, com uma acidez acima dos 4,50g/l, até porque seus 12 meses de barris de 80 mil litros de madeira da Eslovenia e mais 8 meses em garrafa, deixam o vinho maduro e gastronômico, sem perder característica típicas que se encontra nos bons Langhe Nebbiolo.

Portou-se maravilhosamente bem com o bollito misto, feito especialmente para ele e mostrou-se capaz de competir – um nível abaixo, é verdade, principalmente para quem tem dificuldade de gostar de vinhos mais ralos – com o vinho que lhe seguiu, o Barolo.

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Barolo– trouxe este vinho por ser de um produtor de grande porte, a Morando do Piemonte, que faz, entre tantos outros, vinhos como Grignolino, espumantes IMG_1375charmat, barbera, barbaresco e tantos outros. Uma mistura típica de  negociante/produtor que se especializa em não ter especialidade. O principal atributo deste Barolo está fora da garrafa, está no bolso: o preço para o importador, permitiria entrar no mercado brasileiro a menos de R$200,00, quem sabe até em torno de R$150,00, o que seria uma façanha comercial!

Imaginei que ele faria o maior sucesso se tivesse uma qualidade intermediária. Não precisava ser um Gaja, um Piu Cesari para competir, por este preço bastava estar no nível, por exemplo, de um Barolo Fontanafredda básico, que no mercado brasileiro que é vendido por R$199,00 na Bacco’s, só para citar um ponto de venda conhecido!

E na boca não decepcionou. De menor estrutura que outros tantos Barolo, este passa mais por um consistente Langhe Nebbiolo, o que não chega a ser defeito na minha opinião, tornando-se muito mais fácil de se vender em restaurantes, porque fica pronto para beber em uma meia horinha de respiro, contra os 120 minutos mínimos necessários de oxigenação para servir um grande Barolo, o que quase impossibilita o serviço fora de casa (é vinho de abrir quando se começa a cozinhar e servir 3 horas depois).

Para ele e para o vinho seguinte, os pratos foram uma Bruscheta de Stracotto di Coda (rabo de boi) e um fetucini a Alfredo di Roma.

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Brunello- finalmente o Brunello, vinho nobre de uma família de vinhos que nascem nobres e ricos. o Brunello di Montalcino Dievole faz parte de um poderoso time de toscanos, por enquanto formado por um Rosso di Montalcino, um Chianti Classico Riserva, um Bolgheri e este reserva de sangiove grosso, também conhecido como Brunello. A sudoeste de Montalcino, a 350 metros de altitude em direção a Brunello DievoliMaremma, na região mais quente de Montalcino, com um solo arenoso e rochoso, o vinho nasce mais mineral e com melhor e com bela
estrutura. Trata-se de um Brunello intenso e elegante, que cumpriu uma fermentação de duas semanas de fermentação espontânea, seguida de 40 meses em grandes toneis de madeira e um descanso na garrafa de 8 meses antes de sair para o mercado.

Nenhum dos vinhos decepcionou e todos fizeram jus à comida preparada para eles. No entanto, o Grumello Valtelina é o que mais surpreendeu, porque mesmo totalmente desconhecido pela grande maioria dos comensais, não se inibiu e mostrou uma personalidade forte, diversificada e desejada por todos.

Bom seria um importador se habilitar para trazê-lo para cá!