O QUE UVAS AUTOCTONES BRANCAS ITALIANAS PODEM TRAZER DE PRAZER

Estava escrito nas agendas, o encontro no Cosi da Rua Haddock Lobo seria quente, com uvas autóctones da Itália.

A prova mostrou-se de bom nível, com 7 amostras. Sicilia, Sardenha, Toscana, Puglia, com direito a Etna.

Engraçado. Eu peguei o que tinha, não sai pra comprar a minha garrafa. Teria levado um Friuli, um Marco Feluga, se tivesse ainda o Molamatta, visto que o FranzHaas Pinot Grigio não me dava muita certeza…afinal, Pinot Grigio é francesa (Pinot Gris), por mais que esteja dando tão certo nesta Itália do norte. Imagino que todos fizeram o mesmo, mas alguns com mais orgulho que outros.

O Helios Cantina Carbone que levei mostrou-se fraco para a turma. Vermentino e Nasco, 50% pra cada uva, um vinho da Sardenha, de um IGT Isola dei Nuraghi. Se fosse uma degustação aberta, o exotismo da sua procedência, influenciaria sua avaliação. A presença da uva Nasco, praticamente ignorada até na Itália, daria um toque de curiosidade a mais.

Pois bem, Sardo ou Toscano, a Vermentino foi uva mal avaliada pelo grupo! Saímos confirmando um comentário que rolou na degustação, sugerindo que se tratava de uva menor.

E, no entanto, pasmem, um Vermentino sardo é destaque para a Decanter inglesa, para a revista Italia A Tavola, para a Wine Spectator e outros críticos, que está entre os 12 melhores vinhos da Itália, segundo a revista Italia a Tavola e : Trata-se do Il Vermentino di Gallura Bèru, DOCG, da cantina Siddùra, que faz parte do exclusivo grupo dos “Super-Italians”, os 12 melhores italianos que representam o futuro da enologia italiana.

Faz sentido, porque afinal produtores de prestígio indiscutível como Rocca delle Macie de Maremma e Antinori do Chianti Classico, apostam milhares de garrafas nesta cepa e, pelo visto, estão bem felizes com os resultados.

Tirante os Vermentino, a turma era boa, tínhamos grandes amostras, como as campeãs Catarrato Etna The Bianco Benanti e Fiano, apesar da ausência importante de alguns vinhos que são TOP de linha na Itália, como os Verdichio, Lugano, Garganega – responsável em parte pela Soave vêneta e tantos outros que são ótimos na exportação, melhores ainda no consumo local.

Acho que os próprios italianos não valorizam seus brancos de qualidade superior. Lembro de uma longa entrevista que fiz com o Pio Cesare, presidente herdeiro do reinado Pio Cesare de Alba, um dos mais importantes produtores de Barolo e Barbaresco – Por que dois chardonnay e nenhum branco autoctone, perguntei. Gostamos muito de nossos brancos, não nos importamos com o que pensam os jornalistas, não apostamos muito nas uvas locais como Roero e Arneis, nossos clientes estão satisfeitos tanto quanto nossos enólogos e outros responsáveis, respondeu ele do alto de seu trono piemontês.

Asprino di Aversa, região de Napoles – ainda tão pouco conhecida fora da Itália – é um dos que merecem aposta mais constante(https://www.tenutafontana.com/alberata/)

. Os já citados Soave e os Alto Adige são exceções, sempre mantiveram uma multidão de fãs por toda a parte, mas o que dizer do que segue:

Para a Wine Enthusiast 2021, o 2º colocado entre 22.000 vinhos degustados foi o Bucci Verdichio dei Castelli di Jesi, importado pela nossa Decanter, vendido ao preço de R$124,00. Pela mesma prova, o Soave Classico Pleoropan ficou em 15° lugar; como todo Soave, mescla Garganega e Trebiano.

É que nas escolhas de exportação que temos problema de imagem, o que me levou, uma vez, dar uma aula, cujo título era “O pior e o Melhor estão na Itália”. Não digo que os Valdobiadene são horríveis, mas estão longe de competir com os grandes espumantes portugueses, italianos e espanhois, para não dizer dos franceses. Competem mais com os Asti, que atingem não mais de 8% de álcool…para não dizer dos Lambruscos de Bologna e arredores, vinhos que muitas vezes envergonham os produtores mais sérios.

Uvas do Etna, da Sardegna e da Puglia, são tão válidas como tantas outras da Itália, mas não são as que os italianos mais tomam, estão mais novidadeiras, pois a Bota consome e exporta milhões de litros por ano.

Em suma, a prova foi ótima, mas certamente o universo demontrou-se amplo demais. Quem sabe fechamos o cerco por regiões da Itália, numa próxima degustação!